Unioeste lidera inovação no controle biológico da ampola-da-erva-mate no Sul do Brasil
Uma dissertação orientada pelo professor Luís Alves, do Programa de Pós-graduação em Conservação e Manejo de Recursos Naturais, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus Cascavel, representa um marco no combate à ampola-da-erva-mate, uma das pragas mais sérias que afetam os ervais da América do Sul.
A ampola-da-erva-mate é um inseto sugador de até dois milímetros na fase adulta, que ataca a planta durante a brotação. A fêmea deposita ovos que causam deformações nas folhas, comprometendo seu crescimento e levando à queda precoce. Como a folha é a principal matéria-prima da cadeia produtiva da erva-mate, o impacto da praga é direto na produção final. A ampola é considerada uma das principais ameaças aos ervais do Brasil, Argentina e Paraguai, pois forma galhas nas brotações e afeta o desenvolvimento saudável da planta.
Diante desse cenário, a pesquisa liderada por Luís Alves propõe uma solução inovadora e sustentável por meio do controle biológico. O trabalho começou ainda em 1998, com o início da carreira científica do professor na Unioeste, e ganhou novo fôlego a partir de 2010, quando ele passou a testar derivados vegetais com ação inseticida. “Testei alguns extratos, principalmente do NIM, e percebemos que havia um grande potencial. A partir desses testes surgiu um produto que acabou sendo registrado por uma empresa para o combate à ampola. Depois, passamos a testar um fungo já conhecido no controle da broca-da-erva-mate”, explicou.
Nos últimos dois anos, a pesquisa avançou de forma significativa com o uso do fungo Beauveria bassiana Unioeste 44, aplicado em uma propriedade rural da empresária Marizete Pegoraro Bulchelt. Os testes, realizados entre 2023 e 2025, comprovaram a eficácia do fungo na redução da população da praga, especialmente durante os meses mais críticos — de novembro a janeiro.
Segundo Marizete, os resultados foram visíveis em pouco tempo: “Iniciamos esse trabalho com a Unioeste em 2023 e os resultados foram excelentes. A produtividade aumentou, o peso das folhas melhorou e, consequentemente, tivemos um incremento nas vendas. E o melhor: trata-se de um inseticida biológico que não causa nenhum dano à planta. Até o cuidado com o erval mudou”, relatou.
A produtora, que cultiva erva-mate há mais de 20 anos com a família, relatou um salto expressivo na produção: “Antes da Unioeste, nossa safra foi de 12 toneladas. Dezoito meses depois, a produção saltou para 25 toneladas.”
A pesquisa avaliou duas estratégias de aplicação do fungo: pulverização direta nas plantas e o uso de armadilhas visuais amarelas, que atraem os insetos e promovem sua infecção pelo microrganismo. Ambas mostraram bons resultados, com destaque para a pulverização, que reduziu significativamente a formação das galhas.
Como o uso de inseticidas químicos é proibido na cultura da erva-mate no Brasil, o controle biológico surge como alternativa ecologicamente correta e economicamente viável. O fungo e os extratos vegetais utilizados não deixam resíduos na planta, são seguros para o ambiente e para o consumidor, além de não interferirem na qualidade da produção.
O Paraná, onde a pesquisa foi conduzida, é o maior produtor de erva-mate do Brasil e um dos maiores do mundo. O estado tem papel estratégico tanto na economia regional quanto na preservação ambiental, já que a planta é nativa da região Sul. Assim, os impactos positivos dessa descoberta podem beneficiar toda a cadeia produtiva da erva-mate, especialmente em um contexto de mudanças climáticas e demanda crescente por práticas agrícolas sustentáveis.
Segundo o professor Luís Alves, a pesquisa já despertou o interesse de biofábricas da região Sul do Brasil, que estão em negociação para fins de transferência de tecnologia e registro do produto junto aos órgãos reguladores. “A cadeia produtiva da erva-mate, que abrange Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, além de regiões do Paraguai e da Argentina, necessita de um controle de pragas eficiente. Estamos trabalhando para que essa solução chegue ao campo com segurança e eficácia.”
Os interessados em conhecer mais sobre o projeto — para fins de pesquisa, aplicação prática ou parcerias comerciais — podem entrar em contato com a Unioeste. “São mais de 20 anos de dedicação à pesquisa. Apesar de a erva-mate não ter a mesma visibilidade de culturas como soja e milho, ela é extremamente importante para a cultura e a economia regional”, finalizou o pesquisador.
Texto: Liliane Dias